
O Código da Estrada: Estrutura, Princípios e Relevância na Segurança Rodoviária
O Código da Estrada é o diploma legal que regula a circulação de veículos, peões e outros utilizadores das vias públicas em Portugal. A sua principal função é garantir a segurança rodoviária, a fluidez do tráfego e a convivência ordenada entre todos os que utilizam a via pública. Numa sociedade cada vez mais dependente da mobilidade, o cumprimento das regras do Código da Estrada reveste-se de enorme importância social, económica e jurídica.
Natureza e Estrutura Jurídica
O Código da Estrada tem natureza regulamentar e sancionatória, estabelecendo não só normas de conduta, mas também prevendo sanções administrativas (coimas e sanções acessórias) em caso de infração. A versão atualmente em vigor encontra-se no Decreto-Lei n.º 114/94, de 3 de maio, com sucessivas alterações para se adaptar às novas realidades da mobilidade, segurança e tecnologia (por exemplo, veículos elétricos, trotinetes, telemóveis ao volante).
Está dividido em várias secções que regulam temas como:
- Regras gerais de circulação
- Prioridades de passagem
- Sinalização
- Transporte de crianças
- Condução sob o efeito de álcool ou drogas
- Documentos obrigatórios
- Regime sancionatório (contraordenações leves, graves e muito graves)
Princípios Fundamentais do Código da Estrada
Alguns dos princípios que orientam a aplicação do Código da Estrada são:
- Princípio da segurança rodoviária – Visa proteger a vida e integridade física dos utilizadores da via pública.
- Princípio da responsabilidade individual – Cada condutor é responsável pelos seus atos ao volante.
- Princípio da prevenção – As normas procuram evitar acidentes antes que estes ocorram.
- Princípio da proporcionalidade sancionatória – As sanções devem ser proporcionais à gravidade da infração.
Tipos de Infrações
O Código da Estrada classifica as infrações como:
- Leves – Ex.: Falta de luzes em condições de pouca visibilidade.
- Graves – Ex.: Ultrapassagem em local proibido.
- Muito graves – Ex.: Condução sob influência de álcool acima de 1,2 g/l ou desrespeito pelo sinal vermelho.
Cada tipo de infração implica:
- Coima (valor monetário)
- Sanções acessórias, como inibição de conduzir ou perda de pontos na carta de condução
Sistema de Pontos na Carta de Condução
Desde 2016, Portugal adotou o sistema de pontos na carta de condução. Todos os condutores têm 12 pontos, e vão perdendo (ou ganhando) pontos conforme a sua conduta:
- Infrações graves: perda de 2 pontos
- Infrações muito graves: perda de 4 pontos
- Frequentar formação voluntária: ganho de 3 pontos
- Comportamento exemplar durante 3 anos: ganho de 1 ponto por ano (até ao máximo de 15)
Se o condutor ficar com zero pontos, a carta é cassada, sendo necessário repetir os exames para a revalidar.
Entidades Fiscalizadoras e Procedimento Contraordenacional
A principal entidade fiscalizadora é a Guarda Nacional Republicana (GNR) e a Polícia de Segurança Pública (PSP). O procedimento contraordenacional é regulado pelo Regime Geral das Contraordenações, com algumas especificidades no Código da Estrada.
O condutor notificado de uma infração pode:
- Pagar voluntariamente a coima (com desconto)
- Apresentar defesa escrita
- Requerer audiência oral
- Recorrer judicialmente da decisão
Relevância Social e Atualizações
O Código da Estrada é frequentemente atualizado para acompanhar as transformações sociais e tecnológicas. Exemplos recentes incluem:
- Regras para trotinetes elétricas e bicicletas
- Normas mais rígidas sobre uso do telemóvel
- Obrigações de proteção de utilizadores vulneráveis (peões, ciclistas, crianças)
A crescente urbanização e os desafios ambientais também pressionam para uma evolução do Código no sentido da mobilidade sustentável e da segurança inclusiva.
Conclusão
O Código da Estrada não é apenas um conjunto de normas técnicas sobre condução; é um verdadeiro instrumento de política pública, essencial para proteger vidas, promover a ordem pública e garantir a convivência nas estradas. A sua eficácia depende tanto da fiscalização como da consciência cívica dos condutores e peões, tornando a educação rodoviária um pilar fundamental da cidadania moderna.